Em tempos de crise e de epidemias, recomeço a pensar e repensar, para não perder a prática do bom refletir, sobre o papel de um professor de Literatura. Não sei, por vezes, bem raras mas incomodativas, creio que a disciplina se torna um tanto suspensa, inefável, pairando sobre nossas cabeças como nuvens errantes. E, então, vem a sensação do nada. Grandes autores do mundo inteiro dedicaram suas vidas a escrita de um livro. Camões, dizem, passou quinze anos compondo o seu Os lusíadas. Muitos acabaram por selar a literatura universal com seu nome e criar o tão polêmico Cânone. Meu papel de professor de Literatura é levar ao alunos o conhecimento dessas grandes obras, o processo de produção, os elementos estruturais e semânticos que a sustentam, a estética que lhe faz ser um grande livro. Nada mais desolador do que a pergunta que nos emudece: para quê serve a literatura? Por que eu preciso saber metrifcar? Se o objetivo for formar alunos para depois eles ensinarem as mesmas coisas para os seus alunos, puff! criamos um círculo vicioso e feio, a roda do nada, o processo metalinguístico do ensino. Para quê serve a literatura é inexplicável de uma única vez, para mim essa resposta vem aos poucos pela minha extrema necessidade de querer ver nela a praticidade do meu cérebro, como se fosse uma aula de aplicação de injeção que, depois de algum tempo, já começa dar seus resultados e, além disso, salva e cuida de vidas. O erro é procurar esta , digamos, "pragmaticidade" na literatura. Já começo, aos poucos, a encarar a Literatura como uma Ciência, talvez um ramo da ciência maior que é o estudo da Língua. Não existe apenas deleite, com pensam alguns, no ensino da Literatura, pelo contrário, muitas vezes é necessário se afastar do texto para compreendê-lo, caso contrário ficaremos em sala repetindo nosso sentimentalismo latino, à La Faustão: "esse poema é lindo", "esse autor é maravilhoso", "eu amo Fulano de tal", "esse escritor é melhor do mundo". Ainda existe muita resistência em relação à teoria, prevalece a ciência do achismo sentimental, influência triste de uma espécie de preguiça erudita que, por vezes, toma conta de uma universidade e, no caso, não dá ao ensino de Litertura a seriedade necessária. Procurar praticidade neste ramo é sandice. Ensinar é formar opinião, é por em xeque o Gosto, é conhecer e rediscutir esse fenômeno da língua.
daqui mesmo.
Carlos Dias