sábado, 26 de janeiro de 2008

A QUINTA MARAVILHA É...



Toda a grande metrópole tem uma torre famosa. New York, as Duas Torres, que foram derrubadas pelo tio Bin. Na Itália, em Pisa, temos a torre de Pisa. Em Babel, tínhamos a torre de Babel, bien sûr. Em Paris, a torre Eiffel. Belém tem a TORRE DA RBA. Um exemplo da arquitetura pós-pós-pós moderna. Contruida pelo império Barbalho, ela simboliza uma imensa nave espacial suspensa sobre a Almirante Barroso, já ouvi dizer que lá já foi até um restaurante. De lá se vê quase que toda Belém. Ela foi feita pelo famoso arquiteto Donga Chunda. Essa torre dá a Belém o status de metrópole, emparelha-a com as cidades de todo o mundo.

P.S.: para a minha decepção descobri que o programa "Bola na Torre" não é gravado de lá de cima.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O olhar de Baudelaire e Sophia


Quem é olhado ou se crê olhado
levanta os olhos
(Walter Benjamim)

A poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), legítima representante da produção poética contemporânea portuguesa, apesar de sua qualidade indiscutível, ainda é bastante desconhecida pelo público brasileiro. Com uma escrita que passeia pelo ensaio, pela literatura infantil, pela tradução, sua maior expressão é, sem dúvida, a poesia. Há críticos que observam uma relação íntima da poesia de Sophia com a poética clássica, sobretudo a de Safo de Lesbos, uma relação também com Camões e uma relação com a poesia de Fernando Pessoa. Apesar de “praticante” (não colocando-a necessariamente nessa posição) de uma poesia clássica, há marcas essenciais na sua produção que também a aproximam do francês Charles Baudelaire. Essas marcas, que aqui se apresentam dentro de uma “tradição” do moderno, enveredam, sobretudo, por uma utilização do olhar, que nela se apresenta como o “toque mágico” de toda produção artística. Helena Carvalhão Buescu, num ensaio intitulado Sophia no país das maravilhas, faz referência a essa temática do olhar:

“Esta profunda consciência de um jogo fundador da existência, que passa pelo olhar/ser olhado, percorre toda poesia de Sophia.”

Esse jogo fundador da existência estaria no fato de que o olhar do poeta, como um visionário (a palavra na significância de sua etimologia), seria capaz de despertar os objetos que estão ao seu redor, num processo de deslumbramento do mundo. Esse “demiurgo” seria um catalisador da própria existência e da experiência existencial. O toque do olhar do poeta é o contato do olhar com o real, nesse caso o poema corresponderá ao “gesto apolíneo que ordena e apazigua ao modelar a substância informe”:

A Estátua

Nas suas mãos a voz do mar dormia

Nos seus cabelos o vento se esculpia

A luz rolava entre os seus braços frios

E nos seus olhos cegos e vazios

Boiava o rastro branco dos navios

[No tempo Dividido]

Essa estátua que “dormia” fora um material informe que agora “boiava”, como se dentro de sua própria existência fria a essência da estátua já existisse.

Buadelaire, o flâneur que passeia pelo boulevard de Paris, é aquele que percebe, ou mesmo desperta, para uma poesia que apela para o visível, dotando por vezes esse sentido de um poder observador que rompe as barreiras da materialidade: “Celui qui regarde du dehors à travers une fenêtre ouverte, ne voit jamais autant de choses que celui qui regarde une fenêtre fermée”. Quando, no poema “As Grutas” , Sophia canta "as imagens atravessam os meus olhos e caminham para além de mim” não está muito distante de Baudelaire que arrisca num poema de Spleen de Paris:

“Ce qu'on peut voir au soleil est toujours moins intéressant que ce qui se passe derrière une vitre. Dans ce trou noir ou lumineux vit la vie, rêve la vie, souffre la vie”

Essas imagens referidas pelos dois poetas lhe concedem a própria razão da existência, por isso elas são trazidas, num exercício do “olho” – que não apenas é o ver “realmente”, mas também o olhar pela janela fechada de Baudelaire – para dentro da existência do poema. A criação, nesse sentido, repousaria na disposição de usar o olhar para ver dentro das coisas a fim de lhes conceber formas. O olhar apresentado por Sophia é um olhar mais sereno, que toma para observação imagens relativas a uma paisagem praiana, que também é uma imagem mais silenciosa. Já Baudelaire, o próprio Peintre de la vie moderne, toma imagens que permeiam o universo cosmopolita de uma metrópole em desenvolvimento em todo o seu furor de moda e de industrialização.

Carlos Dias (mestre em estudos literários - UFPA)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A QUARTA MARAVILHA É...


Ele já foi pedido e agora está aqui: o CRISTO REDENTOR DE CASTANHAL. Obra prima. A nossa versão paraense para o Cristo carioca com algumas restrições orçamentárias...foi tão pouco o concreto que um braço ficou maior que o outro, e olha só oestado do local onde fica o nazareno! Pra chegar lá em época de chuva só um trator Massey Ferguson...pelo menos é mais emocionante que o bondinho carioca, é no que aposta o setor turístico da cidade modelo...ou seria cidade "modelismo", a tirar pelo tamanho do Cristo. De grande, só o mato! Já não lhe bastou a cruz?

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Para os sons que estão do outro lado



o desconhecimento de um todo

pequeno sol entremeado de mim...

soul todo ouvidos

enérgica mudacolor bouche.

aqui é Dalí de não perceber

dali é aqui, não sem se pedir.

perceber, olhar, ver, espiar, voyeur do som.

gritos, histeria, rancor...

me deram cores desconhecidas

e eu brincava que era música!

mais ao fundo, a raspa de acordes,

as borras de luz,

restos de voz,

a velha possibilidade do grito,

a eterna cor do silêncio.

Carlos Dias


A foto é de Brenda Pollan

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Não por acaso dispersos

Saiba mais sobre o livro que meu amigo Benoni está lançando:


www.naoporacasodispersos.blogspot.com/

O amor nos tempos que se falava espanhol


Sim, não pude deixar de ir ver "O amor nos tempos do cólera" (baseado no livro: El amor en los tiempos del cólera de 1985, Gabriel García Marquéz), mas não fui com aquela vontade que alguns têm de que o filme seja tão bom quanto o livro. São manifestações diferentes. É bem verdade que o fato de o filme ser "baseado" na obra de um grande escritor como Gabriel Garcia Marquez incita-nos a ir ver, pelo menos a história é boa, mesmo sendo um pastiche. No entanto, na minha condição de espectador que leu o livro, tenho a pretensão de dizer que duas coisas me deixaram tristes. 1) a imagem reproduzida na telona estava meio embaçada, não sei se truque de fotografia, meus óculos ou a falta de qualidade estrutural do cinema em questão (aquela rede que tomou conta de Belém), além do mais me roubaram 3 segundos de filme quando, de repente a imagem sumiu, incangou! 2) é inaceitável um filme que se passe em Cartagena e na América Latina ter seus personagens falando inglês, o senso de verossimilhança se perdeu pelo caminho. Talvez alguns filmes queiram apenas agradar a grande indústria cinematográfica norte-americana que não quer ler legenda, quer tudo em inglês.Então, as rimas de Florentino Ariza, originalmente em espanhol, se perderam numa enrolação linguística vergonhosa. O filme, ao todo, é bom, um bom filme como filme, melhor mesmo é o roteiro, melhor mesmo é a fábula.

sábado, 12 de janeiro de 2008

TERCEIRA MARAVILHA


Continuando em busca das maravilhas do Pará, me lembrei de uma que encanta gerações. Bem no centro do "complexo" viário do entroncamento - digo complexo porque é difícil de entender - está a "rampa" desenhada pelo ilustrísssimo arquiteto Oscar Niemeyer em homenagem a revolução cabana, no entanto este momumento não é o que mais brilha ali, ele não entra nas 7 maravilhas, ele é completamente ofuscado pelo "COPO DA CERPA". Quem, ao voltar do trabalho já não se pegou esperando aquele copo encher? Quem, ao chegar do interior não gritou: "Ulha"!? Ele tem até uma comunidade no orkut ( e quem não tem?). O copo da cerpa é uma maravilha, pois encanta gerações!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Segunda Maravilha: MENINO JESUS DE MARITUBA


Não poderia deixar de ser né, quem é que não passa pela BR, em Marituba, e não se espanta com aquele menino Jesus de braços abertos sobre a passarela? É uma obra de arte da escultura-arquitetura paraense, da mesma estirpe da estátua da liberdade da belém importados. O zinho nazareno é bochechudo, cabeçudo, um Kiko de manta. Desproporcional ao extremo!Quem fez? Sei lá! Desculpe Jesus, mas da sua imagem menino só se salva a intenção!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

AS "MAGAVILHAS" DE BELÉM !


Observando a cidade e a região metropolitana, encontramos verdadeiras obras de arte. A criatividade e o ecletismo não têm limites. Fizeram uma eleiçãoa e acabaram por escolher as 7 maravilhas do mundo - o Cristo Redendor pop entrou, lembra? - agora está na hora de eleger as 7 maravilhas do Pará. As candidatas à maravilha vão ser postadas aqui e quem quiser votar e só postar o voto. A primeira das maravilhas, fortíssima candidata é a ESTÁTUA DA LIBERDADE DA BELÉM IMPORTADOS. Qualquer comentário sobre ela seria uma hipérbole. Cabeçuda, mãozuda (será que cortaram-lhe os pés?) ...a verdadeira expressão da desproporção. Dizem que ela tem cara de traveco, que fica lá na Pedro Álvares Cabral olhando para o infinito com sua tochinha malacafenta. Ela é a favorita, com toda certeza!

domingo, 6 de janeiro de 2008

maintenant



há luzes lá fora, e parecem tocar, com a ponta de suas unhas sujas, a minha fina retina direita. eu prossigo ao meu pó noir, meu vício enervético, para beber toda a insistência da inexistência do que há um segundo perturbava. transformo café em água, como todo ser.
polida parece-me a celulose, guardando em si a representação do que não se sabe ao certo, nem ao errado, e é na minha lacuna boba que todos têm que se espelhar. ó representações! filmes postiços agitam de pontapés o meu rosto, mas há letargias mais fortes que a própria existência. uma máxima: penso, logo tenho vontade de dormir...outros pormenores afetam quem quer perder os afagos de morfeu; penso, mas hoje eu não estou para isso. a morte que atravanca o meu progresso é macia e pelúcia, breve como as representações e devastadora como as unhas pontiagudas, sujas e roídas desses focos que me rasgam os olhos ardentes.


Carlos Dias

auto-boas-vindas



A resistência ao mundo atual um dia tem que ceder...é o ajuste de contas com o futuro próximo, uma epécie de adequação. Agora eu estou aqui, como quem sempre quis estar por dentro e ao mesmo tempo por fora. Por que um blog? Para ser um blogado? Blogante? Blogador? Não, nada disso, para apenas poder partilhar as pequenas e frágeis idéias que perambulam sem rumo nesta cabecinha aqui. Literatura, língua, filosofia...tudo vira notícia no blog. Bem vindo eu, ao meu pequeno e ridículo mundo do eu-falando-sozinho. Sugestões, comentários, é por aqui (ou, porra aqui!), o ácido da palavra já começa a escorrer, se cair no pé, fura. Literante, lembra o itinerante, a letra que anda é a palavra. Literante é aquele que pratica a literatura.

Carlos Dias