domingo, 6 de janeiro de 2008

maintenant



há luzes lá fora, e parecem tocar, com a ponta de suas unhas sujas, a minha fina retina direita. eu prossigo ao meu pó noir, meu vício enervético, para beber toda a insistência da inexistência do que há um segundo perturbava. transformo café em água, como todo ser.
polida parece-me a celulose, guardando em si a representação do que não se sabe ao certo, nem ao errado, e é na minha lacuna boba que todos têm que se espelhar. ó representações! filmes postiços agitam de pontapés o meu rosto, mas há letargias mais fortes que a própria existência. uma máxima: penso, logo tenho vontade de dormir...outros pormenores afetam quem quer perder os afagos de morfeu; penso, mas hoje eu não estou para isso. a morte que atravanca o meu progresso é macia e pelúcia, breve como as representações e devastadora como as unhas pontiagudas, sujas e roídas desses focos que me rasgam os olhos ardentes.


Carlos Dias

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